segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Mortes no Trânsito - Onde mora o perigo?


De 18 a 25 de setembro acontece a Semana Nacional do Trânsito, alertando o quanto é violento o movimento nas estradas brasileiras. Diante de tantas vidas perdidas, nos perguntamos como frear estas tragédias? Normalmente se acena para mais rigor na fiscalização, melhoria nas estradas e campanhas de educação para o trânsito. Mas será que é aí mesmo que “mora o perigo”? Uma boa resposta exige que identifiquemos qual é mesmo a raiz deste problema que afeta a vida de tantas pessoas.

Uma grande empresa de comunicação do RS já “jogou a toalha”, admitindo em um de seus editoriais “a impossibilidade de fazer com que campanhas de esclarecimento se mostrem eficientes” (ZH, 26/03/2010). De fato, qual é o efeito que as campanhas de conscientização para o trânsito seguro, patrocinadas pelos meios de comunicação, têm sobre a população, especialmente os jovens?

Continuemos nossa busca: “onde mora o perigo?” Talvez por aqui... Não foram apenas os índices de “acidentes” e mortes no trânsito que aumentaram nos últimos anos. Aumentou, e muito, o número de carros nas ruas. Ou será que isso não tem nada a ver? Será que este modelo de mobilidade que privilegia o transporte individual não é uma importante causa do nosso problema?

Vivemos, cada vez mais, um modelo de transporte e mobilidade que oferece todos os incentivos para a locomoção por meio do automóvel. Enquanto isso, são precários os investimentos em transporte público. Como disse o empresário Oded Grajew (www.nossasaopaulo.org.br): “Bilhões de reais que poderiam melhorar imediatamente o transporte público são gastos em túneis, novas pistas e avenidas que em pouco tempo estarão entupidas (são 800 novos carros por dia nas ruas de São Paulo!)”. Por que não dar prioridade a metrôs, trens, corredores de ônibus, ciclovias que garantam a qualidade de vida acima dos interesses econômicos de algumas indústrias? Aliás, são estes interesses que esvaziam as campanhas, sobretudo aquelas das grandes empresas de comunicação, pois, se por um lado dizem “violência no trânsito, isso tem que ter fim”, por outro, através da publicidade, incentivam o uso e abuso do transporte individual.

E as mortes? O que se criou, na verdade, foi uma “cultura do carro”, sem nos darmos conta de que inventamos uma “máquina da morte”, que é o que se tornou o sistema no qual vivemos. Bem disse Mano Brown, do Racionais MC’S: “dentro do sistema não tem solução, só fora”. Não há outro caminho para nossa civilização a não ser uma drástica redução na produção e consumo, com menos carros circulando nas ruas. Como fazer isso? Uma coisa é certa: esta decisão não pode ficar nas mãos e nos interesses do poder econômico, pois é justamente aí que mora o perigo.
Hora de refletir

Entre tantas crises que enfrentamos, uma delas é a crise da reflexão e do pensar crítico para resolver nossos problemas. A impressão é que o imediato, o dia a dia, e mesmo as futilidades, tomaram o lugar da reflexão. Tornamo-nos meros consumidores daquilo que outros pensaram ser o melhor para as nossas vidas. Mas esta é a tarefa que temos nesse momento. Pensar inclusive no tipo de política que queremos, não apenas para essa eleição, mas para o exercício de nossa cidadania cotidiana.

Existem duas éticas na política: uma é a ética das elites, ou daqueles que querem que tudo permaneça exatamente do jeito como está, sintetizada na palavra infeliz de um ex-ministro da República: “A política é a arte do engano – mostrar o lado bonito da goiaba e esconder o lado podre”. Outra é a ética de todos os que sonham e buscam um mundo e um país melhor para todos. Um pensamento que expressa bem a política que queremos, está no livro O dia de Ângelo, de Frei Betto: “Assumira a luta como arte. Interessava-lhe a política como meio de partilha do pão e da felicidade da vida. Sabia que, além da fome de pão, cruel, mas saciável, havia a fome de beleza, voraz e infindável. Estava trespassado pelo estigma dos que querem reinventar o mundo”.

É preciso mudar, fazer da política uma obra de cada cidadão(ã) e obra de todos que acreditam que a dignidade e a ética são imprescindíveis. Fazer da política uma atividade alegre e bonita, para desenhar outros mapas, novas cidades, um novo país. A juventude é a fase da descoberta, de estabelecer novas relações, de agrupar-se. É também a maior parcela da população brasileira. Isso quer dizer que um novo jeito de fazer política passa, necessariamente, pela juventude. Somos nós que fazemos mudar o rumo das coisas, quando organizados e conscientes.

A política, para quem acredita que é possível mudar a sociedade, tem muito a ver com utopia. É um horizonte à nossa frente, para onde queremos empurrar a história. Mas as utopias não surgem por acaso. Elas expressam a insatisfação com a realidade que a gente vive e o anseio por algo melhor. A utopia é, em primeiro lugar, um questionamento e uma reflexão sobre a situação em que vivemos. Depois é reinvenção e construção de outras e novas relações. Temos muito que fazer. ‘Se você participar, vai ser legal!’.

Fonte: Jornal Mundo Jovem

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