sexta-feira, 24 de agosto de 2012

O que esperar de adolescentes e jovens?

Artigo sobre valores e saberes dos jovens de hoje.

Cada idade tem sua sabedoria. Aprendemos a valorizar os idosos, por exemplo, porque nos fazem viva a memória de nosso passado, com os valores vividos e que nos servem de referência. A juventude também tem a sua sabedoria. Um exemplo é a facilidade que os jovens têm para lidar com os novos meios eletrônicos, com as novas tecnologias.

O próprio Papa Paulo VI já dizia, em 1971, que devemos ouvir a sabedoria dos jovens: “é conveniente até que certos jovens sejam mestres e educadores dos seus companheiros. A sua idade permite-lhes assimilar novos tipos de cultura e comunicá-la aos da sua geração”. Neste sentido, a sabedoria dos jovens corresponde a uma utopia que nos faz olhar para o futuro, a uma projeção do que desejamos. É preciso olhar com cuidado para a juventude. Nela, a realidade social e os dramas da condição humana estão presentes de forma mais intensa. É a ponta do iceberg. Como diz a socióloga Marília Spósito, “o modo como uma sociedade olha a juventude é uma metáfora do modo como ela olha para si mesma”.

Que geração é essa?É fato que mudou muito o jeito de ser adolescente de algumas décadas para cá. Na verdade, mudou porque o mundo mudou e mudamos todos nós. São mudanças que trazem perdas e conquistas. Se, por um lado, ganhamos em liberdade e pragmatismo, por outro, perdemos em idealismo e encantamento. Uma das características desta geração (anos 2000), fruto da revolução tecnológica, é o desejo de fazer tudo-ao-mesmo-tempo-agora: estudar, ouvir música, vasculhar a internet. Também conhecida como geração Z - de zapear -, esta geração é formada por nativos digitais, que já nasceram num mundo marcado pela internet. Não imaginam a vida sem computador, chats, redes de relacionamento, ipods ou telefones celulares.

Sempre conectados, em geral são mais informados e com interesse por diversos assuntos. São capazes de conectar-se com uma vasta rede, mas sem profundidade. A velocidade é tão grande que refletem pouco sobre as informações, não avaliam nem interpretam e sentem muita dificuldade em definir prioridades. É uma geração ansiosa, porque está exposta a um excesso de informação, pelo qual a concentração e a reflexão se tornaram capacidades raras.

Aprendendo com eles e for necessário recuperar um programa no computador, basta chamar o adolescente mais próximo. São eles também os consultores da família na hora de adquirir um novo aparelho eletrônico. Nós, adultos, devemos aprender com os adolescentes e jovens a abrir janelas sem ter vergonha de aprender com eles. Os jovens estão mais abertos ao futuro. Aprender com os jovens que ser multimídia e ficar conectado a inúmeros aparelhos permite trocar conhecimentos com mais pessoas simultaneamente e receber informações amplas sobre o mundo. Não podemos querer voltar atrás e achar que os jovens vão abrir mão desses prazeres e facilidades.

Mas aprender também com a pergunta: o que vale mais, a preservação de nossas forças, que nos garante uma vida mais longa, ou a liberdade da máxima intensidade e variedade de experiências? Melhor viver a mil, em menos tempo, ou viver com moderação, em mais tempo? Melhor ficar acordado até tarde pelo prazer da companhia ou voltar cedo para casa, já que, no outro dia, os compromissos nos esperam? O prazer ou a vida? Para os jovens, para quem a morte parece muito distante, parece não haver dúvida de que é preciso viver intensamente o momento presente, pois “o tempo não para”. Este é um questionamento que nos desafia a, novamente, perguntar: será que temos outras razões, que não seja apenas a decisão de durar um pouco mais, a fazer que nos privemos dos prazeres da vida? Qual é o critério do bem ou do mal quando a paixão de viver é tão grande que ameaça nossa própria vida?

O mais importante é que as gerações se encontrem. A juventude é muito veloz e capaz, mas não lida bem com perdas e frustrações. A família é o lugar onde os filhos são preparados para crescer e tornarem-se independentes. O adolescente necessita conquistar seu espaço no mundo adulto, fazendo suas próprias escolhas. Porém são poucos os jovens em condições de vislumbrar alternativas para o seu projeto de vida, poder escolher e realizá-lo. Em gestos e manifestações, mesmo naquelas mais arriscadas, os jovens estão dizendo: “é a vida que amamos e buscamos”.

A nossa esperança no futuro depende da resposta que daremos à seguinte questão: o que fazer juntos para que possamos viver mais e melhor? Ou seja, é preciso uma ética da cooperação e da solidariedade, superando o individualismo e a competição, muito presentes em nossas ações.
Rui Antônio de Souza teólogo, mestre em Comunicação Social, da equipe do jornal Mundo Jovem, Porto Alegre, RS.
Texto publicado no jornal Mundo Jovem, edição nº 411, outubro de 2010, página 10.

Questões para Debate:

  • 1 - Por que é importante, para uma geração, aprender com outra geração?
    2 - Que contribuição os adolescentes e os jovens dão para a sociedade atual?
    3 - Quais são os limites e os desafios para a geração atual de adolescentes e jovens?

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